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segunda-feira, junho 11, 2012

Muralha de Conimbriga

Muralha de Conimbriga by VRfoto
Muralha de Conimbriga, a photo by VRfoto on Flickr.

CONIMBRIGA (Portugal): Muralha de Conimbriga.

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Quem visita as ruínas de Conímbriga depara com uma muralha, aparentemente feita à pressa, sem o rigor das obras públicas romanas e reaproveitando materiais de outras construções, como o anfiteatro. O aspeto destas defesas e o que se conta sobre elas reforça a ideia de um muro erguido à pressa para proteger a cidades dos bárbaros, no séc. IV.
Mas será mesmo assim? Adriaan De Man, arqueólogo que tem escavado estas ruínas, fez algumas revelações surpreendentes na 4ª sessão do Curso Livre sobre História Militar, dedicado às defesas da época visigótica. A primeira destas é que a muralha em causa foi refeita pelos Monumentos Nacionais nos anos 40. Portanto, o rigor histórico da (re)construção é discutível. A segunda é que na época do amuralhamento original não há qualquer ameaça de invasão da Península: a queda de Roma será no fim desse século e as primeiras incursões dos suevos ainda mais tarde.
Mas, apesar de tudo isto, é objetivo que, Conímbriga se rodeou de uma muralha e que a mesma foi construída à custa da destruição de algo que era central na cultura romana: o anfiteatro, sede de cerimónias e espetáculos públicos, decalque do Coliseu de Roma. Se não havia ameaça militar imediata, porquê a destruição de uma coisa e a construção da outra? Provavelmente pela conjunção de diversos fatores, como sublinhou José Varandas, docente do Centro de História da Universidade de Lisboa, organizador deste curso. Desde logo, a cristianização da sociedade hispano-romana, implicando a rejeição de símbolos da Roma pagã, como o anfiteatro. Alguma centralização orçamental imposta pelo imperador Teodósio proibindo os patrícios ricos de patrocinarem festas públicas. E a decadência de uma economia centralizada, levando ao florescimento de cidades vivendo quase exclusivamente do domínio do território envolvente. As muralhas seriam a afirmação simbólica do poder dessas cidades.
Outro ponto curioso do período entre o séc. IV e o séc. VIII (invasão islâmica da Península) é que os chamados bárbaros, aliás já bastante romanizados, não vêm equipados para a guerra de cerco, faltando-lhes a tecnologia das máquinas de assalto da época imperial. Por isso, os cercos deste período são poucos e, quase sempre, mal sucedidos. Um rei visigodo terá comentado a este propósito: "Sinto-me em paz com estas muralhas". Em contrapartida, os hispano-romanos não têm exército de campanha e, portanto, estão limitados à defesa dos perímetros fortificados. Daí que muitos destes afrontamentos se acabem por resolver pela negociação, pagamento de tributos, tomada de reféns, etc.
Um dos mitos deste período é a contraposição entre a suposta coragem dos germânicos no campo de batalha e a covardia dos hispano-romanos que só combatem à sombra das muralhas. Ora, como sublinhou José Varandas, "se os visigodos fossem esses guerreiros temíveis, então as crónicas da conquista islâmica tê-lo ia referido quando, pelo contrário, transmitem algum desprezo pelas suas qualidades militares".
De resto, a batalha de Guadalete, em 711, que determina o fim do reino visigodo, é travada em condições muito especiais. O rei godo está a braços com uma guerra civil, tem insurreições, a norte, com os galaicos e os bascos e apenas dispõe, para aquele combate, da sua guarda pessoal. Esta, constituída por guerreiros treinados para uma função mais de guarda-costas que de manobra em conjunto, é facilmente vencida pelos 3.000 homens de cavalaria ligeira com arcos, vinda do Norte de África. De resto, a presença de mercenários vindos do magrebe para combater na Península Ibérica era habitual e vinha desde o tempo das guerras púnicas, entre cartagineses e romanos. A diferença é que estes berberes estavam islamizados de fresco e eram a guarda avançada de uma expansão que só começaria a entrar em retrocesso, décadas depois em Poitiers, nas planícies francesas do Loire.

info: expresso.sapo.pt/

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